Alguns poemas de Carlos Drummond de Andrade demonstram de imediato a sensibilidade e a perspicácia desse grande escritor brasileiro, sendo até hoje um dos poetas mais lembrados e estudados. Vejamos um dos poemas mais conhecidos de Drummond:
Amar
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal,
senão rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e
uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.
Carlos Drummond de Andrade – biografia resumida
- Nome completo: Carlos Drummond de Andrade
- Data de nascimento: 31/10/1902
- Local de nascimento: Itabira – Minas Gerais
- Formação: Farmácia
- Foi casado com: Dolores Dutra de Morais
- Data de falecimento de Carlos Drummond: 17/08/1987
- Local de falecimento: Rio de Janeiro – Rio de Janeiro
- Motivo da morte: ataque cardíaco
Principais contribuições para a literatura brasileira
Não é por acaso que Carlos Drummond de Andrade é até hoje um dos poetas mais lidos no Brasil e no mundo. O talento desse escritor foi revelado durante o movimento modernista, que teve seu grande marco na Semana de Arte Moderna, em 1922. A poesia de Drummond de uma maneira muito forte está relacionada com uma certa ruptura com o passado e ao mesmo tempo promove uma reflexão de caráter existencial.
Com o passar dos anos, Carlos Drummond de Andrade começa a questionar a posição do indivíduo em um contexto mundial que se torna cada vez mais tecnológico e artificial. Vale lembrar que o poeta viveu e acompanhou de perto períodos importantes da história, tais como a Segunda Guerra Mundial, explosão da bomba nuclear, Guerra Fria e o período do governo militar no Brasil.
Carlos Drummond de Andrade também é lembrado e lido até hoje pelo fato de ter abordado uma infinidade de temas e situações do cotidiano extraindo uma beleza de certa forma melancólica de acontecimentos aparentemente banais.
Sempre mostrando uma perspectiva humana e pessoal, Drummond aborda questões sociais e individuais próprias de sua época. Isso significa que, além do imenso legado literário, esse poeta teve grande contribuição ao abordar aspectos históricos do Brasil e do mundo.
Carlos Drummond de Andrade – vida
Infância
Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira, interior de Minas Gerais, sendo filho de proprietários rurais. Essa condição favoreceu os estudos e formação escolar do poeta. Drummond passou a maior parte de sua infância e adolescência estudando em colégios internos e também teve diversas aulas particulares em Itabira-MG.
Trabalho e relação com a literatura
No ano de 1921, Carlos Drummond de Andrade começa a publicar artigos no Diário de Minas. Em 1925, conclui um curso de Farmácia na Escola de Odontologia e Farmácia de Belo Horizonte.
Ainda em 1925, Drummond funda “A Revista”, um dos mais importantes veículos de comunicação em Minas Gerais. Depois de passar um período lecionando Língua Portuguesa e geografia em Itabira, Drummond decide morar em Belo Horizonte e inicia seu trabalho como redator no Diário de Minas.
Entre 1945 e 1962, Carlos Drummond de Andrade atuou como funcionário público no Serviço Histórico e Artístico Nacional. Em 1962, Drummond se aposenta do serviço público, mas sua produção literária jamais foi interrompida.
Casamento e família
Carlos Drummond de Andrade casou-se com Dolores Dutra de Morais em 1925 e teve dois filhos (Maria Julieta Drummond de Andrade e Carlos Flávio Drummond de Andrade). Drummond tinha uma afinidade muito grande com sua filha Maria Julieta, que também atuou como escritora.
Falecimento
Carlos Drummond de Andrade vem a falecer 12 dias depois da morte de sua filha Maria Julieta, que morreu de câncer.
Carlos Drummond de Andrade – obras
- 1928 – No Meio do Caminho (poesia)
- 1930 – Alguma Poesia (poesia)
- 1930 – Poema das Sete Faces (poesia)
- 1930 – Cidadezinha Qualquer e Quadrilha (poesia)
- 1934 – Brejo das Almas (poesia)
- 1940 – Sentimento do Mundo (poesia)
- 1942 – Poesias e José (poesia)
- 1942 – Confissões de Minas (ensaios e crônicas)
- 1945 – A Rosa do Povo (poesia)
- 1948 – Poesia até Agora (poesia)
- 1951 – Claro Enigma (poesia)
- 1951 – Contos de Aprendiz (prosa)
- 1952 – Viola de Bolso (poesia)
- 1952 – Passeios na Ilha (ensaios e crônicas)
- 1953 – Fazendeiro do Ar (poesia)
- 1957 – Ciclo (poesia)
- 1957 – Fala, Amendoeira (prosa)
- 1959 – Poemas (poesia)
- 1959 – A Vida Passada a Limpo (poesia)
- 1962 – Lições de Coisas (poesia)
- 1962 – A Bolsa e a Vida (crônicas e poemas)
- 1968 – Boitempo (poesia)
- 1970 – Cadeira de Balanço (crônicas e poemas)
- 1973 – Menino Antigo (poesia)
- 1973 – As Impurezas do Branco (poesia)
- 1978 – Discurso da Primavera e Outras Sombras (poesia)
- 1984 – O Corpo (poesia)
- 1985 – Amar se Aprende Amando (poesia)
- 1987 – Elegia a Um Tucano Morto (poesia)
Agora que você sabe sobre a vida e obras de Carlos Drummond de Andrade, confira nossos demais conteúdos sobre nossa rica literatura brasileira.
Imagens: revistacult.uol.com.br / pensador.com