Muitas pessoas certamente já ouviram falar a respeito de variação linguística, seja na área de Letras, Comunicação ou Sociologia. No entanto, o que isso significa e como essas variações influenciam na linguagem do cotidiano?
Variação linguística – o que é?
Consiste em um fenômeno relacionado ao uso da Língua Portuguesa, ocorrendo por meio das variações históricas e regionais, tendo suas alterações feitas pelos próprios falantes.
No Brasil, por exemplo, é possível identificar facilmente tais alterações ao comparar o português falado no Sul do país com aquele que é falado na região Norte ou Nordeste.
Quais são os tipos de variação linguística?
Variações históricas
Pelo fato de passar por várias transformações no decorrer do tempo, a Língua é caracterizada por seu dinamismo próprio, acarretando alterações na maneira de escrever, no significado de determinadas palavras e até mesmo no emprego delas.
As variações históricas são observadas nos casos de:
- Palavras ou expressões que deixaram de ser utilizadas;
- Vocabulário próprio de uma determinada faixa de idade;
- Grafemas que deixaram de ser usados.
Um exemplo clássico quanto a esse tipo de variação na linguística consiste na remoção do “ph” em determinadas palavras.
Exemplo 1:
- Pharmácia (forma antiga).
- Farmácia (forma atual).
Exemplo 2:
- Vossa mercê (forma antiga).
- Você (forma atual).
Variações diafásicas
Mais conhecidas como variações situacionais, elas ocorrem em função do contexto comunicativo, influenciando e determinando a maneira como as pessoas se dirigem ao interlocutor, adotando uma linguagem formal ou informal.
Em outras palavras, é quando a mesma pessoa altera sua maneira de falar dependendo do ambiente no qual ela se encontra (informal ou formal). Alguns exemplos desse tipo de variação são:
Linguagem formal
Trata-se de um tipo de linguagem considerada mais culta e prestigiada, utilizada principalmente quando não existe familiaridade/intimidade entre os interlocutores da comunicação ou em determinadas situações que requeiram maior seriedade, como em uma audiência jurídica, por exemplo.
Linguagem informal
Trata-se daquela que é caracterizada por ser menos culta ou prestigiada, sendo utilizada especialmente quando há maior grau de intimidade/familiaridade entre os interlocutores ou em situações descontraídas, como no bate-papo com os amigos em um barzinho, por exemplo.
Variações diatópicas
Também chamada de variação geográfica ou regional, consiste numa variação ocorrida quando a mesma Língua é falada de forma diferente, a depender de determinada localidade (país, estado, cidade).
Esse tipo de variação linguística é identificado ao compararmos as alterações do português entre as diversas regiões do Brasil e também ao compararmos o português falado no nosso país com o português falado em Portugal.
Alguns exemplos:
- Mexerica, bergamota ou vergamota = determinado tipo de fruta cítrica.
- Marmitex, quentinha = comida.
- Macaxeira, aipim, mandioca = um tipo de raiz.
Esse tipo de variação ocorre mediante influências culturais, hábitos regionais, tradições etc., podendo acontecer das seguintes maneiras:
- Diferentes palavras para os mesmos conceitos ou significados;
- Diferentes dialetos, sotaques e falares;
- Diminuição de palavras ou perda de fonemas.
Variações diastráticas
Também conhecidas como variações sociais, são tipos de variações linguísticas que ocorrem em virtude da convivência entre determinados grupos sociais que, por questões culturais, preferências, atividades ou profissões em comum adotam um linguajar próprio (especialmente jargões e gírias).
Trata-se, por exemplo, da linguagem utilizada entre grupos distintos, tais como:
- Advogados;
- Surfistas;
- Policiais;
- Políticos;
- Religiosos;
- Bandidos etc.
Por que é importante compreender as variações linguísticas?
O entendimento com relação a essas variações evita o preconceito quanto a quem fala diferente, tornando o idioma ainda mais amplo e rico com relação aos significados das palavras e expressões.
Estudos relacionados a cada tipo de variação linguística são recorrentes no caso dos profissionais que atuam na área de Letras, já que eles buscam analisar as transformações ocorridas na Língua em virtude de fatores geográficos, históricos, culturais, sociais etc.
Fatores extralinguísticos que interferem nas variações
- Classe social ou nível socioeconômico;
- Origem geográfica;
- Nível de escolarização;
- Sexo;
- Idade;
- Profissão;
- Redes sociais;
- Palavras e expressões estrangeiras.
Classificação das variações linguísticas
Essas variações possuem uma classificação específica, sendo nomeadas de:
- Variação morfológica: alteração na grafia (forma de escrever) da palavra.
- Variação fonético-fonológica: diferentes pronúncias para uma letra. Aqui no Brasil, um exemplo comum são as diferentes pronúncias da letra R.
- Variação semântica: quando uma mesma palavra pode ser empregada com significados diferentes.
- Variação sintática: refere-se à organização dos elementos, mantendo o mesmo sentido da oração.
- Variação estilístico-pragmática: variam conforme situações de interação social, sendo caracterizadas por maior ou menor grau de formalidade.
- Variação lexical: palavras escritas de maneira diferente, mas que possuem o mesmo significado.
14 livros sobre variação linguística
1 – Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística (Marcos Bagno).
2 – Língua e ensino: dimensões heterogêneas (Denilda Moura).
3 – Doam-se lindos filhotes de “poodle”: variação linguística, mídia e preconceito (Maria Marta Pereira Schere).
4 – Fonologia e variação: recortes do Português brasileiro (Leda Bisol e Cláudia Brescancini).
5 – Linguística da norma (Marcos Bagno).
6 – Desafios da língua (Denilda Moura).
7 – A língua que falamos: Português, história, variação e discurso (Luiz Antônio da Silva).
8 – Mudança e Variação Linguística nas Histórias em Quadrinhos: Um estudo baseado na Graphic Novel de Gustavo Duarte (Marly Custódio da Silva e Nataniel S. Gomes).
9 – Introdução à Sociolinguística: O Tratamento da Variação (Maria Cecilia Mollica e Maria Luiza Braga).
10 – Pedagogia da Variação Linguística. Língua, Diversidade e Ensino (Ana Maria Stahl Zilles e Carlos Alberto Faraco).
11 – Manual da Sociolinguística (Stella Maris Bortoni-Ricardo).
12 – Da Linguística Formal à Linguística Social (Roberto Gomes Camacho).
13 – Linguística Textual e Ensino (Sueli Cristina Marquesi, Aparecida Lino Pauliukonis e Vanda Maria Elias).
14 – Preconceito Linguístico (Marcos Bagno).
Cada uma dessas obras é de fundamental importância para os profissionais, pesquisadores e alunos que desejam adquirir ou aprimorar conhecimentos no campo da linguística, importante área integrante da Língua Portuguesa.
Vale ressaltar que questões relacionadas às variações linguísticas costumam ser itens recorrentes em provas como Enem, vestibulares, concursos públicos e é claro, em avaliações durante o período escolar.
Conhecer sobre variação linguística também é enriquecer a cultura, identificando todos os aspectos que envolvem nossa história e alterações pelas quais a Língua Portuguesa foi passando.
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